(Im)Perceptível

Paro.
Olho.
Estou numa corda a desafiar o equilíbrio.
Tento-me manter firme a cada passo que dou...
Mas... A cada passo que dou sinto-me mais perto da inevitável queda.
Desiquilibro-me, ora para um lado, ora para o outro e consigo ver no fundo a miragem da minha alma estilhaçada no chão...

No entanto parece não me assustar o perigo... Estou imperceptível a tudo, avanço mais um passo porque não sei ficar parada! Tudo me parece estranho...

Não sei se quero. se posso querer, se prefiro a corda ou o fundo meio desfocado que avisto daqui.
A esperança de ter a tua presença à minha espera faz-me querer mergulhar...
Mas e se não estiveres lá? E se me perco no escuro? E se eu chorar?
Vais-te importar?...
Lês-me a alma mas não me respondes... O teu olhar mente?

A minha corda... É cada vez mais dificil andar! Espera...
Será que estou a dar passos no fumo da essência que me leva até ti?
Caí e não percebi... Porque não sei parar de te olhar!
Mesmo quando não estás ao alcance dos meus olhos castanhos... O nevoeiro confunde-me os sentidos, a cor da distância ofusca-me... e sinto-me cansada... Não sei não sei.

Assim, exactamente assim, só como tu és, como só tu sabes ser, sem tirar nada, sem pôr, verdadeiro... Fascina-me!
E depois?.... Pum!!!!
Não sei de mim... não sei... Não sei se quero saber.

Já nem sei de mim... Só para saber de ti...
De ti.

Rendo-me à evidência da tua presença
prefiro-me assim, livre.
Gosto de poder admitir-te em mim. Gosto.

Todos os silêncios..

Todos os momentos em que a harmonia de nós, juntos, nos fez sorrir.

Tenho medo que só os meus olhos vejam esse milhão de estrelas que voa sobre nós quando nos tocamos no escuro, debaixo daquela árvore que cheirava a sonhos...

O silêncio de todos os olhares que já trocamos é a razão que a minha razão desconhece...